11/02/2013 – O Mundo de Alice

Alzira era o nome da avó do meu marido. Teve duas filhas e dois netos. E agora, que infelizmente já não está entre nós, tem uma bisneta. Que ia ser, tenho a certeza, a luz dos olhos dela. Perdeu o marido muito cedo. Viveu com a filha mais nova até falecer. Sempre foi uma mulher de trabalho. Não sabia, e não conseguia, estar quieta. Lavava a roupa no tanque. De Verão e de Inverno. Subia, já com setenta e muitos anos, ao telhado para arranjar telhas que o vento colocava fora do sítio. Era também uma mulher cheia de amor. Adorava os dois netos. Foi ela que os ajudou a criar. Fazia as batatas fritas e bife, que ambos adoravam e, sendo eles já adultos, continuava a ter chocolates para lhes dar. Continua a dar mimos aos netos como se eles ainda fossem crianças. Era, tal como os chocolates que oferecia, a pessoa mais doce que já conheci. Fui a última pessoa que estive com ela em vida. Fiz-lhe festas durante horas no cabelo branco e sedoso. Falei com ela dos netos. Do quintal onde ela cultivava as couves e batatas com tanto amor. Para depois nos dar. As batatas dos Natais eram sempre do quintal. Nunca irei saber se me ouvia. Estava em estado semi comatoso numa cama de hospital. Quero acreditar que sim. Que sentiu cada festa. Que ouviu todas as palavras. Tenho a certeza que está a olhar para nós e a velar pela nossa felicidade. E a M. vai ouvir falar da Avó Alzira. Uma bisavó de quem se pode orgulhar. Como eu me orgulho de a ter tido como avó. Amo-te, avó Alzira, e tenho muitas saudades tuas. Do que depender de mim, os teus netos e a tua bisneta serão sempre muito felizes. Vou dar à M. os beijos repenicados e doces que recebia de ti. Prometo. ❤